Minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas
nem de grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite.
Clarice Lispector








17 setembro, 2010

DIALOGO DE POETAS



Vamos fazer uma poesia?
-Vamos!
O que vai ser?
- Nada
Vamos lá, comece!
- você começa.
- você define e eu te acompanho.

Do nada se faz algo também é só acrescentar uma pitada de humor.
- rindo.
Riscos feitos em papéis! Moldes vazados.
Esboços de olhos em preto e branco.
Luz imaginária, uma íris obliqua.
Cores perpendiculares aleatória ao seu olhar?
Seria isso?
- Não se detenha para falar precisamente das coisas, deixes as falas chegarem.
- refaça estas frases, mas no pensamento de alguém.
Cores perpendiculares aleatória a um olhar.
- ainda não, mas subjetivo.
(Risos).
Cores perpendiculares e olhares obtusos
-mais subjetivo, ainda. Mais palavras para o espaço.
- esta frase é bem concentrada, dá para tirar mais dela.
Imagens fracionárias, telas avulsas.
- é uma característica dos seus poemas.
- mais ainda.
Cores que saem de um escuro temporário.
- gostei.
- continue na mesma frase, não pule para outra.
- não quebre o ritmo desta idéia, estenda ela ao máximo.
Sim
Transporta-me a um mundo ilusionário.
Transpõe barreiras similares ao tempo.
- não, deixe essa frase aguardando.
-continue ainda nas cores que saem de um escuro temporário.
Eu continuo na primeira?
Cores que saem de um escuro temporário.
Cores que saem de um escuro temporário.
(pensando)
Cores obtusas, cores imaginárias.
-Não.
-não descreva muito o objeto, descreva a atmosfera.
Vamos lá, cores que saem de um escuro temporário.
Calma, vai sair.
-algo nesse ritmo.

- cores que saem de um escuro temporário e se quedam na razão das seis pessoas que fui hoje.

Seis pessoas não tanto razoáveis.

Repetitivo não?

- seis pessoas não tanto razoáveis e repetitivas.

Mas com a continuidade paralela à razão.

São seis modos de ser, são as cores da escuridão.

- de arco íris de planetas mortos.

Morte súbita, queda de uma pintura contemporânea.

Pintura abstrata que retrata rostos em preto e branco.

São cores e nuances.

- não se concentre nos objetos

- os objetos não existem

- apenas a imagens deles

- na imagem de tudo

Retratos existem sim, foram feitas de uma imagem real.

A pintura que pode ser abstrata.

-imagens que são feitas de tons

-e tons são freqüências perceptivas

-o q é real?

A pessoa que está na imagem, o pintor usa um ângulo do lado direito.

A obra sai meio enviesada sem cores especificas.

Cores vistas por uma pessoa com seis modos diferentes.

(Risos)

Estou escrevendo o que penso, nada extraordinário.

Penso, logo imagino flores! Não, não seria uma flor.

Seria o vazio do mundo moderno.

Quero saber o que aconteceu com a morte da cor preta?

-continue.

Agora tenho a continuidade, me aguarde:



Dirijo uma visão em forma de prisma redundante.

Existe um objeto não identificado, mas idealizado.

Fases eclesiásticas! Estico as formas sem ousar no equilíbrio.

Contrabalanço o universo, algo pesa em meus ombros.

Repito gestos como se fossem automáticos.

Dedos deslizam com a proximidade do fogo.

Ouço gritos, vozes interiores! Sons, que sons?

O que sei desses ecos? Invariavelmente eu luto.

Espero uma trepidação, caminho pelas ruas sem rumo.

Inevitável, inevitável é o amanhecer. O amanhecer é inevitável.

Sorrio para mim mesma como se o tempo estivesse fora de órbita.

Amenizo situações com o calor do universo, mas! Onde está o universo?

Flash! Flash! Flash! Fração do espaço, morte fatal.

-agora passe a limpo, e veja como ficou.

Certo.




Soraia e Edgar Reyes

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