Minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas
nem de grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite.
Clarice Lispector








27 novembro, 2012

Beth Hart and Joe Bonamassa- I'd Rather Go Blind




     Segurei as lágrimas como se segurasse a chuva que  teimosamente escorria pelo meu rosto. Sufoquei-me, tentei inutilmente ter alguma razão, tentei ser  a razão propriamente dita. Mas não consegui de fato ser o que eu queria nesse momento de incertezas.
     Tentei também esboçar um sorriso meio amarelado. “Pálida idéia”. O sol lá fora  insiste em contradizer-me. Essa incoerência natural de pensamentos que trago agora não me serve para nada, nem para o nada vazio em que me encontro servem de alicerce para sustentar meus pensamentos alienados e sufocados. Se te sufoco é por querer cuidar um pouco de você. Inútil tentativa, inútil vontade de querer  sem querer.
    Minha alegria contínua se esvai momentaneamente. Troco o dia cinza pela noite azul , fora do seu sul. Vejo-me absorta e torta como um vulto louco e triste. Aquela não era minha hora de dizer-te o óbvio. Então: distribuo sorrisos falsos sem mexer meus lábios quentes e vazios de palavras.
     Calo-me diante das horas que rapidamente caminham fazendo uns círculos de vida. Não era minha intenção obter sua vida, embora desejasse alguns minutos do seu tempo, apenas o essencial do essencial desejado. Nada que tomasse teu tempo curto.
     Senti-me só no meio de tantas frases mal redigidas e proferidas cruelmente. Senti-me estranha como um vulcão preste a explodir. Sensação perversa – meu reflexo sombrio me fez penetrar inversamente em teu olhar indefinido. Lembro-me nitidamente do teu rosto sem risos farto na boca. O contraste do branco e o preto. Do sangue que corre em minhas veias com o gelo do teu olhar. Senti arrepios frios e quentes. Um choque gentil e amargo. Sofri.
    Escrevi de trás para frente teu nome imaginário e a caneta falhou desesperadamente e indiscretamente escreveu algo inteligível, rasurado, absurdamente irreal. A tinta cortou minhas doces palavras e deu lugar para uma acidez envolvente e descrente. Sorrateiramente a chuva desceu no meu rosto até o limiar da boca molhando meus lábios de água com sabor do sal do mar revolto. Era o mar dos teus olhos frios. Novamente outro contraste. O frio da água de encontro ao meu corpo quente. Inerente ao meu estado de espírito.
    Ouço uma melodia, essa que ouves agora, enquanto lê esse texto sem sentido. Tento dizer-lhe coisas irreversivelmente inócuas ao meu paladar seco. A letra da música passa algo na minha mente e meu cérebro repete, repete. É como se eu, através dessa música murmurasse as palavras ditas, é como se eu cantasse para você o que teimosamente tento lhe passar em vão... E repasso a você num ato de desespero: escute a música, escute essa música, escute todas as que gentilmente  lhe ofereço... Eu preferiria, eu preferiria ser cega, moço, a vê-lo se afastar de mim desse jeito...Oooo, então veja que eu te amo tanto. Que eu não quero vê-lo me deixar. Acima de tudo eu não, eu não quero ser livre não. Eu só estava, eu só estava, sentada aqui pensando, nos seus beijos e no seu abraço apaixonado, yeah, embora o reflexo no copo que eu seguro nos meus lábios agora, querido, revelou as lágrimas que estavam no meu rosto, yeah".
    E a canção  continua tocando no fundo da minha alma, alimentando minha esperança vazia de que tudo pode acontecer.

Soraia...


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